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Luís Teves 20/05/2020 - CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA



Na sua obra, Crónica de uma Morte Anunciada, o escritor Gabriel Garcia Marquez relata a história de Angela Vicario, uma linda jovem de uma pequena povoação Colombiana que, horas depois do seu casamento com um abastado forasteiro, foi arrastada de volta para casa de sua mãe porque o marido descobriu que ela não era virgem. Após levar uma tareia da mãe, a moça é forçada a revelar o nome de quem lhe usurpou a pureza e honra. De forma pouco genuína, Angela revela que terá sido Santiago Nasar, um jovem rancheiro local. Os dois irmãos gémeos de Angela, Pablo e Pedro Vicario, decidem não ter outra alternativa senão matar Santiago para vingar a ofensa à honra da família. Para o fazer agarram em duas facas de matar porcos e vão em direção ao talho local para as afiar.


Lá divulgaram a todos os presentes o seu plano para matar Santiago. Depois, dirigiram-se a leitaria onde, de novo, anunciaram o seu plano de homicídio. Em pouco tempo, a notícia espalha-se pela vila como um incêndio desenfreado. Nem todos acreditam na ameaça; alguns porque consideram que os irmãos são “boa gente” outros porque a interpretam como parvoíce de bêbados.


No entanto, uma senhora pede a todos por quem passa para avisarem Santiago que os irmãos Vicario o querem matar mas o que é certo foi que ninguém o avisa por várias razões: uns assumem que ele já deve ter sido avisado, outros porque acreditam que alguém o avisará, outros não o fazem porque não se querem dar ao trabalho de o procurar e outros ainda simplesmente não acreditam que o plano irá concretizar-se. No final Santiago é perseguido pelos irmãos Vicario quando caminha para casa e é esfaqueado mais de vinte vezes. O assassinato é brutal, com Santiago a carregar as suas próprias entranhas ao entrar em sua casa, caindo morto no chão da cozinha.


Esta história lembra-me um pouco o que se passa no Sporting actualmente. Existe um grupo de

“notáveis” aliados aos actuais corpos sociais do clube, que há muito estão a ameaçar a morte do

Sporting Clube de Portugal. Periodicamente, fazem grandes intervenções na comunicação social a defender a alienação da maioria do capital da SAD como sendo a única alternativa de sobrevivência do futebol do Sporting. Volta e meia saem da toca de forma consertada, e num espaço de poucos dias invadem jornais e TVs, numa já longa cruzada que visa tentar convencer os sócios a aceitar a venda da maioria do capital da SAD a um investidor estrangeiro.


Desta vez não foram os irmãos Vicario a divulgar o plano de morte, mas outros dois senhores que por acaso tem laços familiares: Tomás Froes e seu sogro Carlos Barbosa da Cruz. Antes deles já tivemos um tal de Henrique Monteiro, Jose Roquette e Dias Ferreira, entre outros, a defender publicamente a venda da maioria do capital da SAD. Revezam-se estes coveiros do clube, nos órgãos da CS com artigos e opiniões que mais parecem panfletos de publicidade

para a venda de um produto qualquer. O objectivo é preparar a opinião pública e gradualmente levar os sportinguistas a resignarem-se e aceitarem que não existe outro caminho. Até membros dos actuais corpos sociais do clube já alteraram a sua postura sobre a polémica em volta da venda da SAD.


André Bernardo afirmou na última semana que esta ”É uma decisão dos sócios do Sporting” em nítido contraste com a posição eleitoral de que “Está for a de questão alienar a maioria da SAD”. Ou seja, em menos de dois anos passou a não estar fora de questão.


Em paralelo, os sócios do Sporting, tal como acontece com os habitantes da povoação colombiana na história de Gabriel Marquez, pouco ou nada fazem. Parece que muitos não acreditam que este cenário da venda da SAD possa acontecer. O que é indesmentível é que houve uma golpada no clube precisamente na altura em que o CD liderado por Bruno de Carvalho se preparava para executar uma operação financeira que iria consolidar fortemente a capacidade do clube de manter a maioria do capital da SAD. Eu não acredito em coincidências, muito menos quando um dos maiores accionistas da SAD disse que: “Bruno de Carvalho já foi e a seguir vão os sócios”.


Não sendo um especialista em questões financeiras, parece-me evidente que em virtude das decisões tomadas nos últimos dois anos, o risco do Sporting perder a maioria da SAD aumentou de forma exponencial. A SAD está desvalorizada devido à má gestão e aos maus resultados desportivos e as linhas de receita continuam a descer, desde a bilheteira, ao merchandising e a quotização.


Os sócios e adeptos do Sporting não se podem colocar à margem e assumir que outros farão o que tem que ser feito para resgatar o clube. Nem podemos cair na ilusão de que somos insignificantes e não temos nas nossas mãos o poder, e o dever, de libertar o clube e salvaguardar, proteger e conservar a sua história como clube ecléctico, exemplar e ganhador. Não devemos, muito menos, embarcar na fantasia que o Sporting está a ser liderado por “boa gente” porque estes órgãos sociais são, no mínimo, incompetentes e nada têm feito para engrandecer e valorizar o clube.


Pouco adianta fazer manifestações se não houver acções firmes e resolutas e processos materiais que lhes dêm significado real. Gritar slogans, entoar cânticos e depois seguir em direcção ao estádio, descalçar os sapatos para ir ver um jogo de futebol não é decerto a melhor maneira de lutar pela sobrevivência do Sporting. Protestar nas redes sociais e reclamar o regresso de Bruno de Carvalho, por si só, não vai alterar em nada o status quo. Foram muitos que de forma activa, coordenada e maquiavélica conseguiram expulsar o ex-presidente do clube. Muitos mais serão necessários para que o seu regresso se materialize.


Não será ele que sozinho conseguirá fazê-lo. Somos nós todos, e cada um de nós, que temos a obrigação de fazer com que ele regresse se é este verdadeiramente o nosso desejo. Bruno de Carvalho já deu a receita para o que devem ser os primeiros passos: exigir de forma inequívoca

que sejam realizadas AG’s de destituição do presidente do Conselho Directivo bom como do presidente da Mesa da Assembleia Geral.


Todo o procedimento relativo a esta iniciativa deveria ser suportado por documentação redigida ipsis verbis com a que foi utilizada para a destituição dele próprio porque ficou estabelecido um precedente que foi aceite e aproveitado pelos actuais dirigentes. Requerer uma AG de destituição do PMAG iria impor que a apreciação de tal pedido tivesse obrigatoriamente que ser feita por alguém que não Rogério Alves. Existem motivos mais que suficientes para demitir os actuais órgãos sociais que vão da má gestão, ao conflito com os sócios, ao incumprimento da maior parte das promessas eleitorais e até ao desrespeito pelos estatutos do clube. O que é necessário é agir de forma célere e inteligente respeitando os mecanismos consagrados nos estatutos..


Se os sócios e adeptos do clube se mantiverem nesta postura inerte, apática, comodista e acomodada, arriscam-se a ter de, mais tarde, viver com os dissabores que agora acreditam ser improváveis. O caminho faz-se caminhando e não há tempo a perder. Temos de nos unir, e agir, para não perdermos aquilo que amamos porque se o Sporting Clube de Portugal perder o controle da maioria da SAD perderemos o clube para sempre. Morrerá. Depois não adiantará chorar sobre o leite derramado. Ou será derramar sobre o leite chorado? Não me lembro, perguntem ao Varandas.



Luís Teves

20/05/2020


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