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Rugido Verde 26/04/2020 - Memórias do Início da Verdadeira Campanha Negra



Categorias: Alcochete, Crónicas


Vou iniciar este artigo de uma forma original, e que marcará uma estreia, até para mim, a nível de estilo: com um post scriptum, usualmente abreviado para “P.S.” (familiar a todos como uma nota extra final).

“(…) P.S. Chamo ainda atenção de que chegou ao nosso conhecimento que há jornais sensacionalistas que estão a preparar trabalhos de facção e, para isso, andam a contactar psiquiatras e psicólogos no sentido de se fazerem insinuações sobre o estado emocional do Presidente do Sporting Clube de Portugal, dar eco às calúnias sobre uso de drogas e denúncias anónimas sobre crimes de pedofilia. Hoje, como tem sido sempre, vai valer tudo!”

Nuno Saraiva (Facebook, 18/4/2018).


Na altura, como adepto, inocentemente, sentia-me pronto para tudo o que viesse, como um sketch do Major Valentim Loureiro: “Quantos são? Eles que venham!” Previa moldes de ataque usados anteriormente, que respeitassem minimamente a cidadania, deontologia, e a lei. O meu foco encontrava-se desviado por outras razões positivas: um Sporting pujante; um raro crescimento sustentado – não tinha sequer lembrança de tal feito – a nível competitivo , financeiro e com incremento de associativismo e de massa adepta; a denúncia e combate aos “podres” presentes no fenómeno desportivo nacional e internacional; e sonhos, tantos sonhos.

Sonhos em ver esse rumo ainda mais consolidado, em ver o clube internacionalizar-se ainda mais noutras zonas geográficas (as minhas muy estimadas e conhecidas Ásia-Pacífico e Sudeste Asiático), em ver o clube atingir patamares superiores que, por fim, pareciam atingíveis. As vitórias, essas, seriam uma consequência natural e uma constante não dependente da variável casualidade.


Esse aviso veio a concretizar-se na plenitude, e excedeu largamente tudo o que pudesse conjecturar na altura. Capas e capas de jornais, de revistas (fruto da aglomeração dos meios por parte dos grandes grupos, algo muito negativo para a imprensa nacional), artigos partilhados em rede, sem escrutínio, sem contraditório, painéis infindáveis que geravam mais notícias através de citações dos mesmos. Criou-se a campanha mais negra e intensa que alguma vez vira/conhecera em qualquer país cuja vertente política/sociológica, e que naturalmente envolve história para verdadeira compreensão dos fenómenos, abordara – não foram poucos nem reduzidos a um só continente – e que se prolongou por meses a fio.


Quero, no entanto, abordar um período muito específico e determinante para o que se seguiu. Até porque o artigo é sobre memórias do referido no título, as mais marcantes, sem no entanto as poder incluir todas por questões de extensão e objectividade. Abro um parêntesis para os que consideram que se “tem de seguir em frente; esquecer”. Só conhecendo a história a fundo e percebendo todos os elementos que a definiram é possível moldar o futuro. De outra forma, seremos sempre meros espectadores impotentes na construção do mesmo.


Lembro, como se de ontem se tratasse, o fatídico dia de 15 de Maio de 2018. Começara na madrugada desse dia com a leitura da capa do Correio da Manhã, que me suscitou imediatamente este pensamento: “isto faz sentido nenhum.” Estranhei o timing, que mais tarde viria a entender como estando relacionado com o intuito de criação de caos, num momento de fraqueza em que já era dado adquirido o despedimento do então treinador; estranhei o conteúdo; estranhei o destaque invulgar com ressonância em tudo quanto era órgão de comunicação social ao produzido por um tablóide. Na sequência da perda do acesso à Champions para o rival directo, na iminência da formalização do despedimento do senhor que quase se deitou no banco de suplentes num jogo decisivo (captado em imagens), estando estranhamente passivo na atitude durante todo o jogo, na sequência de reuniões urgentes mas normais numa SAD com vista a mudanças inevitáveis mas inflamadas mediaticamente, surgia “aquilo”. “Aquilo” que depois se soube incluir um pagamento para a “denúncia” (assumido pelo próprio ao Ministério Público, mas já fora descoberto), envelopes timbrados com o símbolo do clube, e gravações em monólogo tão explícitas no conteúdo que pareciam programadas: longe dos típicos códigos e subtilezas de casos credíveis.


Na tarde desse mesmo dia, assisti incrédulo às inesperadas imagens de um grupo, aparentemente, a correr em marcha organizada rumo à entrada da Academia. Mais tarde (julgamento) veio-se a verificar não ser um grupo coeso, sendo integrante de variados e diversos indivíduos, muitos nem membros de uma claque, e que essa marcha apenas se deu nesse momento inicial – algo comprovado bem mais cedo do que em julgado via imagens de CCTV difundidas primeiramente pelo jornal DN. Escutei termos como “milícia”, escutei sobre armas brancas inexistentes, escutei acusações difamatórias impressionantes e sem sustento algum. Li relatos fantasiosos, que incluíram facadas em fisioterapeutas, uso de bastões, inclusive rumores heróicos de “um médico e um fisioterapeuta – não os vou nomear, já o fiz noutros artigos – terem corrido com eles da Academia!” (cuja origem começou nas redes sociais de conhecidos dos mesmos). Algo que, como se veio a saber, era completamente falso e uma verdadeira antítese da realidade.


Pela noite desse 15 de Maio, vi e senti pânico entre os adeptos, motivado por imagens internas enviadas à comunicação social – mesmo antes das 18h, ainda a GNR não entrara no edifício – associadas a todo o tipo de descrições mortíferas, muitas das quais foram desmistificadas em Monsanto. Destaco o trabalho de desconstrução e de reposição da verdade material a que o Rugido Verde se dedicou.


Vi também nessa noite Marta Soares, à saída da academia, acompanhado por Eduarda de Proença de Carvalho, introduzir o termo que viria a marcar todo o processo e o recurso a medidas excepcionais que permitiriam até investigar um mero cabelo alheio no automóvel de um conhecido: terrorismo (fonte: RTP, 15/5/2018).


Passo a citar: “Repudiamos o terrorismo que se viveu na Academia.”


Posteriormente, como é sabido por várias pessoas, a procuradora Cândida Vilar, em comunhão com o ex-ministro da Administração Interna e antigo chefe do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Rui Pereira, viriam a formalizar tal pretensão. Se Marta Soares já teria falado com alguém ao respeito e a sua introdução do termo foi intencional ou inocente, não sabemos ainda. Sei que, sendo Relações Internacionais um dos meus campos de especialidade, e a temática nas suas mais variadas formas, discussões, e documentação produzida bem familiar (ex. ECTC da Europol) , tal deixou-me estupefacto e incrédulo.


Recordo ser narrado por jornalistas que todos os presentes tinham de permanecer nas instalações, encontrando-se lá retidos. Daí o escândalo com o BMW azul, que se veio a confirmar, obteve autorização de quem a imprensa não esperava: um responsável de segurança posteriormente promovido pela presente administração do clube. Recordo ainda como a jornalista da RTP no terreno dizia que o então médico do Sporting, Frederico Varandas, era o primeiro elemento interno (SCP) a abandonar as instalações, horas antes das deslocações à esquadra da GNR em Montijo. Recentemente, um vídeo em arquivo da estação permitiu confirmar que a memória não pregara uma partida.


No momento achei estranho, face aos relatos que de forma céptica ouvira – não acreditava em tudo (já explico) – mas não dei a devida relevância. As questões (os porquê e para quê) só surgiram muito depois.


Não acreditava em tudo devido a ver vídeos e imagens internas a serem encaminhadas intencionalmente para alguns órgãos de CS. A protecção da imagem do clube e até das emoções (sentimentos) dos adeptos era contrária a esse tipo de acção. Senti – longe de ser o único pois existia uma troca de impressões intensa com amigos Sportiguistas – que havia lá dentro quem quisesse pôr a “casa a arder”. Presentemente, as dúvidas ao respeito dessa intenção, e com tudo o que se veio a saber em Monsanto, são zero.


Ouvi com atenção as declarações de Bruno de Carvalho a respeito do incidente. Achei no momento que era demasiado cedo: deveria ter assumido apenas forma escrita, ou ter ficado a cargo de um Vice-Presidente (haveria coragem num cenário tão adverso e inesperado?) . Tinha noção do quão intenso e massacrante fora o dia. Vi-o com um semblante abalado e cansado. Não ouvi nessa declaração nada que me surpreendesse, e tenho muito bom ouvido.

Fiquei baralhado quando comecei a ler e a ouvir por tudo quanto era lado que classificara o incidente como “chato”. Não foi isso o que eu tinha escutado, ou ouvira mal? Lá fui verificar, em minutos, que classificara o crime como hediondo, e que o “chato” se referia apenas a uma infinidade de telefonemas de preocupação recebidos por todos, fruto do pânico gerado pela CS. Ainda hoje, face à campanha negra, existe gente que acredita na falsidade resultante da subversão das palavras de Bruno de Carvalho, e pior, a repete. Uma subversão que prosseguiu em diversos outros momentos. No entanto, isso é uma questão que já tem a ver com dar-se ao respeito. Quem se respeita enquanto pessoa e cidadão – não confundir com orgulho ou ego exacerbado – não aceita manipulações, muito menos as facilmente desmontáveis por meios próprios e disponíveis.


No dia seguinte, a 16 de Maio de 2018, vi serem introduzidas narrativas pérfidas, sobre a não deslocação do então Presidente à GNR no Montijo, quando se sabe que foram as próprias autoridades a tomar as rédeas dessas deslocações e quais os elementos agrupados. Vi a acusação de Jorge Gaspar, ex-membro do Conselho Fiscal e Disciplinar do SCP (que se demitira do cargo em Abril, tendo sido eleito pela lista de Pedro Madeira Rodrigues), dizer que “Bruno de Carvalho deve considerar-se moralmente responsável pelos crimes ontem praticados em Alcochete” (fonte: Jornal de Negócios e CM). Vi um mini-notável de nome Carlos Severino apontar na mesma direcção (fonte: Sapo Desporto). Vi o impoluto e inimputável Rogério Alves ensaiar uma correlação (fonte: RTP), apontando na mesma linha, a qual foi totalmente destruída em Monsanto. Vi o comentador Rui Santos, que recentemente assumiu novo papel de destaque negativo no caso de racismo sofrido por Moussa Marega, autor de difamação sistemática e calúnias quase criminosas contra o ex-Presidente, a apontar-lhe culpa, e a usar ipsis verbis a seguinte denominação infantil e ignorante: “uma espécie de terrorismo” (fonte: SIC). Poderia ainda referir outras personagens.


Tudo num espaço de apenas 24 horas após o dito evento.

A figuras e figurinhas de convicções inabaláveis – perigosíssimo, mas costuma variar consoante o tema ou alvos – sem investigação seria ou apuramento de factos, somaram-se o próprio precipitado Presidente da República, que posteriormente até deixou que se cavalgasse a história de que poderia não estar presente na final da Taça de Portugal, e que não queria a presença de Bruno de Carvalho na tribuna do Jamor, mesmo podendo desmentir tais especulações ante uma questão directamente colocada por uma jornalista (fonte: TVI24, vídeo). Ou seja, a probabilidade da fonte desses rumores terem partido dele é enorme, senão mesmo absoluta. Rebelo de Sousa não gosta de comentar temas que “são da justiça”, não se coibindo, no entanto, de abordar ferozmente o tema Tancos quando viu o seu nome envolvido: “É bom que fique claro que o Presidente não é um criminoso” (fonte: múltiplas). Foi para mim uma enorme desilusão que nunca esquecerei.


Outros nomes da política se somaram à narrativa de ataque, como Ferro Rodrigues, Marques Mendes ou Carlos César. Destaco apenas o primeiro pois eu recordava bem um caso de gravidade extraordinária no qual se vira envolvido anos antes, e vira como “a defesa da honra” era a sua única prioridade e foco: nunca as vítimas.


Um dos efeitos perniciosos da intencional deturpação das declarações iniciais de Bruno de Carvalho, bem como a estória maldosa a respeito do acompanhamento à esquadra que já descrevi neste artigo, incidiu precisamente neste aspecto: tentar argumentar que ele não se preocupara com as vítimas das alegadas agressões. Não deixa de ser curioso que, quem o fez noutros casos objectivamente, não se tenha coibido de explorar o evento para apontar o dedo. Denomina-se de oportunismo político.


Neste caso, foi devastador para o então Presidente do SCP, com repercussões que comprometeram o seu estatuto como cidadão de plenos direitos e o direito à defesa do seu bom nome. Só o julgamento em Monsanto veio, por fim, destruir narrativas, não com pedidos de desculpa devidos por quem se acha “gente de bem”, mas apenas com silêncio.

No meio de todo este turbilhão, lembro-me perfeitamente de estranhar quando soube da hospedagem de jogadores e staff num hotel, pago pelo clube, e das fotografias a uma espécie de treino de aeróbica na clínica de Frederico Varandas. Se alegavam recear treinar na Academia porque não treinavam em Alvalade? Muito mais tarde vim a perceber que tal se enquadrava na estratégia de rescisões, via documento do veredicto do TAD, para reforçar o argumento da “impossibilidade de manutenção do vínculo laboral.”

Em Monsanto (julgamento), quando confrontado com a questão a respeito da razão para não terem utilizado o estádio de Alvalade em detrimento da sua clínica, o actual Presidente, que alegava tudo saber sobre os jogadores e staff, respondeu com um curto “não sei.” (7/2/2020) E ficou em silêncio, algo que contrastou com as suas restantes intervenções desastrosas em tribunal, ricas em insinuações e teorias. Recordo que numa dessas tiradas que lhe são características, nomeadamente tendo como alvo Vasco Santos (ex-Director de Segurança), que, sublinho, repetiu no TAD, valeu-lhe uma quase-reprimenda embaraçosa em Monsanto por parte da Juíza Presidente Sílvia Pires.


Para mais sobre este testemunho podem consultar o artigo: Link: O Infeliz Testemunho de FrederiCu Varandas

Para concluir este artigo, e porque a continuação da campanha negra é sobejamente conhecida por quem a quis observar, gostava apenas de deixar duas citações de uma análise que poderá acrescentar uma perspectiva extra ao que é sabido por muitos na temática abordada. Uma vertente que não deixei de notar.


Numa dissertação de Mestrado, de título O Processo de Framing num Escândalo: A Detenção de Bruno de Carvalho (Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 2019, p. 70), realizada por José Queimada Soares referiu que “A fotografia assume um papel fundamental nos estudos de enquadramento noticioso e, neste estudo de caso, tal não foge à regra. Quanto às primeiras páginas, Bruno de Carvalho surge quase sempre cabisbaixo, com uma postura que denota resignação ou vergonha.”


“(…) No interior das mesmas, abundam as fotos da envolvência do ex-presidente. Desde a fachada das instalações onde está detido, às pessoas que estão no exterior, e fotografias de arquivo a recordar tudo sobre o ataque à academia.”

Estas são algumas memórias marcantes, minhas, do início de uma histórica campanha negra, as quais quis partilhar com todos vós. Não as quero esquecidas, pois serão um dia ferramentas para um futuro diferente.

Até à próxima.


Rugido Verde

26/04/2020


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