top of page
Buscar
  • Foto do escritorOpinião com Assinatura

Luís Teves 18/02/2021 - A EXUBERÂNCIA IRRACIONAL DE QUEM COME GELADOS COM A TESTA



Confesso que sinto alguma perplexidade e muita apreensão quando testemunho esta exuberância quase irracional dos sportinguistas com o primeiro lugar deste campeonato que, com quase toda a certeza, o Sporting irá conquistar este ano. Não é que não compreenda o prazer, a antecipação e a satisfação por parte de quem está há 20 anos à espera de um título mas preocupo-me com a aparente amnésia por parte dos sócios e adeptos sobre aquilo que tem sido a gestão do clube nestes últimos 3 anos. Esta realidade, acoplada com a minha inabalável convicção que o Sporting foi campeão na época de 2015-16, refreiam a minha euforia.


Há dias tive uma conversa com um sportinguista, meu amigo desde a adolescência, que em consequência do nosso desacordo terminou com alguma acrimônia. Trata-se de uma pessoa, à partida inteligente, formada e gestão, que, a meu ver, teria a obrigação de pelo menos ter um posicionamento mais informado e crítico quanto ao modo como o clube está a ser gerido. No entanto, o primeiro lugar no futebol profissional parece ter-lhe ofuscado o raciocínio e sequestrado o seu discernimento ao ponto de ele cegamente justificar e defender todos os actos desastrosos de gestão desta direcção. Isto porque no seu entendimento todas as decisões ruinosas de Frederico Varandas, levaram a equipa profissional de futebol à liderança do campeonato, não equacionando que se tenha chegado a esta situação, não obstante a má gestão deste CD. O sportinguista em questão defende que as quantias obscenas pagas por Amorim e Paulinho são justificáveis porque “o que os adeptos querem são títulos e os títulos dão dinheiro da Champions League para continuarmos a ganhar”. Perante este seu argumento questionei-lhe porque razão o Sporting após ser campeão em 1999-2000 e 2001-2002, e tendo recebido os ditos prémios de participação na Champions League, não conseguiu continuar na senda das vitórias. Como é evidente não obtive resposta e por isso fui forçado, eu próprio, a esclarecer. O Sporting não continuou a vencer porque apesar de ter ganho aqueles dois títulos não tinha uma base de gestão sólida, nem uma estratégia desportiva e financeira competente e adequada à sustentação do sucesso. Um relógio avariado consegue, mesmo assim, dar as horas certas duas vezes por dia.


Como é característico das pessoas que não conseguem apresentar factos para sustentar os seus argumentos, o meu interlocutor, socorreu-se então da justificação emocional: "Há 19 anos que não somos campeões e somos enxovalhados e gozados por esse motivo. Por isso é urgente sermos campeões”, disse ele. Esta é para mim a vertente mais triste desta aparente tendência dos sportinguistas para aceitar o inaceitável a troco de um título, mesmo que isto ponha em causa a dignidade e o futuro do clube. Houve uma golpada sem precedentes no clube mas não faz mal porque estamos em primeiro. Aumentou o passivo e as dívidas a fornecedores mas não interessa porque estamos em primeiro. Pagam-se comissões indecentes a empresários mas está tudo bem porque estamos na liderança. O orçamento e relatório de contas foram reprovados em AG mas não há problema porque vamos na frente. Os direitos dos sócios são desrespeitados, as votações não são anônimas e os estatutos não são cumpridos, mas convivemos com isso para não desestabilizar a equipa. Não existe transparência na gestão do clube mas aceitamos tudo cegamente porque somos líderes do campeonato. Antecipam-se verbas do acordo da NOS mas não questionamos porque estamos na frente. Pagam-se comissões de mediação pornográficas a amigos para fazer uma reestruturação financeira de 65 milhões de euros a um juro mais alto do que é praticado no mercado mas ninguém contesta porque estamos em primeiro. Enfim, poderia estar aqui uma semana inteira a enunciar as incongruências e absurdos que os sportinguistas parecem dispostos a permitir, e fazer vista grossa, a troco de um título nacional.


Pessoalmente recuso-me a mergulhar nesta irracionalidade ou a embarcar no entusiasmo desmedido e irresponsável sabendo perfeitamente que poderei ser criticado e até acusado, como já fui, de não ser um “verdadeiro” sportinguista. Mas é precisamente o meu sportinguismo que me impede de ser impetuoso, imprudente e irreflectido nesta situação porque nunca aceitarei que um título qualquer ponha em causa o futuro e a sobrevivência deste clube. Não é a primeira vez que sinto que perdi uma amizade porque defendo estes princípios e porque me recuso a ceder, a escusar ou a poupar aqueles que prejudicam e se aproveitam do clube, apenas porque o desfecho de uma época desportiva se possa traduzir num título de campeão. Por cada uma destas amizades que se vão, há outras que tenho ganho com sportinguistas que pensam como eu, que amam verdadeiramente o clube e que não se vergam à ilegalidade, à falcatrua, à chico-espertice, ao desrespeito ou à vigarice a troco de um título qualquer. Será com estes que eu lutarei até ao fim. É para onde estes vão que eu também vou.



Luís Teves

18/02/2021


450 visualizações12 comentários

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page