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Luís Teves 17/03/2021 - OS JUROS DOS NEGÓCIOS OBSCUROS



O Vitória de Guimarães informou, na última sexta-feira, que obteve um empréstimo de 20 milhões de euros, a partir da titularização dos direitos de transmissão televisiva, pagos pela Altice. No comunicado emitido pelo clube minhoto lê-se que "A Vitória Sport Clube, Futebol SAD viu aprovada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários uma operação de titularização de créditos decorrentes do contrato de cedência de direitos de transmissão televisiva e multimédia celebrado com a Altice Picture, SARL. Esta operação garante o encaixe de um montante de 20 ME.”

 

Considerando os contornos tornados públicos sobre esta operação financeira feita pelo clube da cidade-berço, parece-me que este empréstimo é muito semelhante àquele que o Sporting contraiu em 2019 já com o actual Conselho Directivo. Ambas as operações financeiras foram efectuadas com base nos contratos relativos aos direitos de transmissão televisiva e foram feitos com a mesma entidade financiadora – o fundo Apollo Group dos Estados Unidos. A mais significativa diferença, para além dos montantes envolvidos, reside na taxa de juro negociada. O Vitória Sport Clube conseguiu uma taxa de juro de 5.25% enquanto o Sporting terá de pagar uma taxa de 8% pelo privilégio de fazer este negócio com a Apollo.

 

Qual terá sido a razão pela qual o Vitória de Guimarães conseguiu uma taxa de juro 2.75% mais baixa do que aquela que o Sporting negociou? Eu sempre pensei que as taxas de juro poderiam ser proporcionais ao nível de risco para a entidade credora. Será que fazer um empréstimo ao Sporting Clube de Portugal é assim tão mais arriscado do que ao Vitória de Guimarães? E porque será que o Vitória não teve de pagar uma comissão de mediação a ninguém para “ajudar” na concretização desta operação financeira?

 


O Sporting Clube de Portugal não só está a pagar um juro mais elevado pelo seu empréstimo como ainda desembolsou a quantia de 650 mil euros (1% dos 65 milhões) como pagamento a uma “boutique financeira” para intermediar o negócio. Esta é uma questão que dá muito que pensar uma vez que os membros do CD do Sporting já conheciam Gustavo Guimarães, o CEO da Apollo em Portugal, que até já foi visto no camarote VIP de Alvalade. Porque então pagar a alguém para intermediar a operação? Não há ninguém no Sporting habilitado a fazer uma operação de titularização de crédito directamente com a entidade credora quando para mais esta já é

conhecida?

 

Esta situação nunca foi devidamente esclarecida aos sócios nem aos accionistas e recordo que, ao contrário do que fez o Vitória de Guimarães, o comunicado emitido pela Sporting SAD na altura omitiu o valor da taxa de juro e não referiu que foi paga uma comissão de intermediação. Fica a certeza que este CD gere o clube de forma pouco transparente e que esconde propositadamente informação aos sócios e accionistas. O negócio obtido pelo Vitória Sport Clube não é mais do que um atestado de incompetência ao Conselho Directivo do Sporting. Mas este não me parece ser apenas um caso de incompetência, pois considero que se trata de mais uma circunstância onde os superiores interesses do Sporting não foram defendidos e assegurados. Não me lembro de ler notícias durante os mandatos de Bruno de Carvalho que o Sporting tivesse pago comissões de intermediação para fazer contratos com entidades já conhecidas do clube com vista a estabelecer negócios com pagamento de juros bastante acima dos valores de mercado. Esta direção, aparentemente não tem tempo, interesse, know-how ou capacidade para tratar dos assuntos do clube e por isso parecem haver muitas “boutiques financeiras”, agentes desportivos, amigos e parceiros que andam a encher os bolsos às custas do Sporting Clube de Portugal.

 

Se a grande maioria dos sócios e adeptos do Sporting tivesse mais zelo e interesse pelo clube, no lugar de se interessarem quase exclusivamente pela equipa de futebol profissional masculino, este tipo de situações não passariam despercebidas e provavelmente haveria mais rigor e menos negligência na gestão do clube. O clube até se calhar poderia dar lucro. Mas a apatia, inércia, e francamente a indiferença e falta de cultura associativa dos sportinguistas permite esta gestão medíocre e danosa, lesiva aos interesses do clube e que põe em causa o seu próprio futuro.

 

Começam a faltar-me ideias e palavras para tentar abrir os olhos às pessoas.



Luís Teves

17/03/2021


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