Opinião com Assinatura
Luís Teves 30/12/2020 - FELIZ ANO NOVO?

Tradicionalmente, no fim de cada ano, muita gente decide fazer um balanço dos últimos doze meses da vida social. Na última semana de cada ano, costumam existir programas de televisão, e artigos de jornais, a fazer o levantamento dos acontecimentos mais notáveis e significativos do ano. Confesso que considerei hoje fazer o mesmo, mas desisti de o fazer porque foram tantos os acontecimentos importantes neste ano de 2020, que seria impossível fazer considerandos sobre todos eles sem omitir, mesmo que involuntariamente, alguns episódios ou ocorrências importantes e essenciais. Por isso, decidi escrever apenas sobre alguns factos que considero terem sido instrutivos para mim neste ano tão atípico, e bizarro.
Foi certamente um ano invulgar a todos os níveis, mas especialmente naquilo que concerne ao desporto nacional e ao Sporting em particular. Muitos dos episódios e ocorrências a que estamos habituados ver acontecer normalmente e sem problemas ou distúrbios, foram, no Sporting Clube de Portugal, alterados e remodelados em função dos riscos colocados pela pandemia. Enquanto outros clubes foram capazes de organizar Assembleias Gerais onde os sócios tiveram a oportunidade de expressar as suas opiniões, votar anónima e democraticamente e colocar questões pertinentes aos respectivos CDs, no Sporting uma AG para aprovação de contas e orçamento foi transformada em AG eleitoral retirando aos sócios o seu direito de questionar e exigir explicações ao CD. Fiquei, portanto, a saber que o PMAG do Sporting está totalmente empenhado em proteger a saúde dos sócios do clube mesmo que para isso tenha de usurpar os seus direitos conferidos pelos estatutos do clube. Será de louvar?
Aprendi neste ano de 2020 que o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro Ministro são apenas capazes de se sentir vexados quando algum incidente, ocorre na Academia de Alcochete. Variadíssimas situações de violência em hotéis nas imediações do Estádio da Luz, apedrejamentos de autocarros do SLB que resultam em ferimentos de jogadores, agressões a mulheres e crianças em variadas localidades onde joga o Benfica, agressões e assassínios de adeptos do SCP por parte das claques invisíveis e inexistentes do SLB, e outros incidentes avulsos, não são dignos de qualquer comentário ou perturbação por parte dos máximos representantes do povo português. Nem o assassinato de um cidadão ucraniano por funcionários do SEF os importunou minimamente. Talvez por isso todos aprendemos este ano que, segundo um ministro da república, o Sport Lisboa e Benfica está acima da lei.
Fiquei igualmente elucidado sobre o que acontece a quem não cumpre as suas obrigações e desrespeita, intencionalmente, os estatutos do Sporting Clube de Portugal. Ou seja, não acontece NADA! Não importa que o prevaricador seja um indivíduo que já tenha sido bastonário da Ordem dos Advogados e que, em virtude da sua profissão e formação, tenha obrigação de saber quando seria seu dever dar a palavra aos sócios e se recusar a decidir em causa própria. Fiquei assim a saber que vale tudo no Sporting e que os nossos dirigentes podem fazer o que bem lhes apetece porque os sócios são uns acéfalos ignorantes que aceitam ser enganados, desrespeitados e desprezados a troco de um efémero primeiro lugar na tabela classificativa de vinte em vinte anos.
Aprendi também este ano que a pandemia do Covid-19 não foi assim tão má para todos. Enquanto milhões sofreram, e milhares morreram, outros sobreviveram à custa das restrições impostas pelo governo português. Falo, como é evidente, de um doutor que para além de se ter promovido desavergonhadamente como voluntário na luta contra a pandemia, apesar de nada saber sobre imunologia e pneumologia, beneficiou pelo facto de todas as restrições postas em prática terem limitado e, consequentemente, suavizado a onda crescente de contestação de que era alvo. Para ele, a pandemia possibilitou a autopromoção e acabou por ser a sua tábua de salvação no clube.
Ficou, para mim, claro em 2020 que na sociedade portuguesa o mesmo crime não é sempre punido com a mesma sentença. Enquanto um animal que assassina um adepto italiano do Sporting é punido com quatro anos de prisão, quem mata o filho de um ex-agente da PJ apanha vinte e um anos - apenas cerca de cinco vezes mais. Parece-me justo, não acham?
2020 marcou o pior ano desportivo a nível de futebol profissional em 114 anos de história do clube. Não nos qualificamos para as competições europeias, o desinvestimento a nível de modalidades foi marcante, as contas e o orçamento não foram aprovados, o clube ficou devedor da SAD, o passivo aumentou, foram antecipadas verbas do contrato de transmissões televisivas, aumentou a dívida a fornecedores e os empresários viram solidificada a sua influência no clube. Foram 4 os treinadores contratados sendo que o último acabará por custar cerca de 14 milhões que ainda não estão saldados. Apesar de tudo isso, os sportinguistas parecem estar hipnotizados por uma liderança na liga que poderá não ser duradoura e, mesmo que seja, poderá levar o clube ao abismo financeiro.
Perante o presente cenário, não sei se estarei muito optimista para 2021. Continuo a sentir-me decepcionado perante a inércia e indiferença dos meus consócios. Vejo um clube cada vez mais a regressar ao passado, a cometer os mesmos erros de há vinte anos atrás, a permitir que as mesmas pessoas que o afundaram tomem o leme de novo, a viver de promessas não cumpridas, a seguir em frente no trilho da desunião e a cavar um fosso financeiro cada vez mais profundo. Se os sócios não conseguirem reconquistar o clube em 2021 poderemos perdê-lo para sempre.
Mesmo assim…..Feliz Ano Novo!
Luís Teves
30/12/2020
