Opinião com Assinatura
Luís Teves 20/05/2021 - A TOURADA

Nos tempos da minha adolescência gostava muito de uma canção que resultou de uma parceria entre Ary dos Santos e Fernando Tordo, interpretada por este último, que viria a representar Portugal no Festival da Eurovisão em 1973. Na altura, apreciava o ritmo e melodia da canção apesar de não ter noção do seu significado social e político. Hoje percebo que a “Tourada”, como se chama, tem um valor histórico, pela sua letra mordaz e penetrante que, utilizando terminologia das touradas fez um retrato crítico da sociedade de então, evadindo por completo a censura do estado.
Tozé Brito revelou não ter percebido na altura a mensagem da canção e disse: "Só percebi depois a intenção que estava por detrás. Hoje, é engraçado ver que esse tema não perdeu a actualidade. A carapuça não era só política mas também social. E em alguns aspectos estamos iguais.” Confesso que no decorrer da última semana, ao presenciar as reações e celebrações de algumas pessoas à conquista do título pelo Sporting Clube de Portugal lembrei-me da “Tourada” muitas vezes.
Uns celebraram com “guizos, chocas e capotes”, outros com “bandarilhas de esperança”. Vieram “velhos, doidos e turistas” e “entraram excursões”. Vieram também aqueles “forcados que não pegam nada”, e ouvimos bem alto os “brados e olés, dos nabos que não pagam nada”. Não pretendo criticar o sportinguista anônimo que esperou 19 anos para celebrar esta conquista, mas não posso deixar de condenar as atitudes daqueles que utilizam esta vitória para enganar os "peões de brega” e enaltecer quem não merece. Refiro-me a uns cataventos, dementes, cronistas, e outros aldrabões que saíram à rua mal soou o apito final do jogo com o Boavista.
Entrou “aquela música maluca” do Dias Ferreira a contradizer todas as críticas que fez a Varandas nos últimos três anos e que agora declarou: “Varandas já é o meu presidente. Deu rumo ao Sporting”. Para este “galifão de crista”, o novo rumo para o sucesso desportivo e financeiro de um clube, deve incluir contratar 6 treinadores por época (até que se acerte num deles), vender jogadores ao desbarato, comprar treinadores e jogadores por valores insustentáveis, gerir com o orçamento e relatório de contas chumbados, antecipar receitas dos negócios das transmissões televisivas, contrair empréstimos com juros acima dos valores de mercado, pagar comissões pornográficas a agentes e mediadores, e colocar uma SAD a operar no vermelho.
Entrou um Tito Arantes Fontes, com “cravos e dichotes” e fez uma crônica no site do clube que nada mais foi do que um derrote em falso de um touro estonteado. Nessa sua ode a Varandas o presidente do Grupo Stromp agradeceu ao “Grande presidente Frederico Varandas” pelo “SEU” título e pela frase demolidora “Um bandido é sempre um bandido”, referindo-se a Pinto da Costa. Note-se que ninguém do Sporting em alguma altura utilizou uma frase idêntica em referência a Luis Filipe Vieira embora a ele também se aplicasse na perfeição. Talvez seja um indício de alguma estratégia conjunta entre Vieira e Varandas visando a desestabilização do FC Porto, coisa que este mancebo deve ter incentivado. Interessante que no seu texto o ilustre autor nunca escreveu as palavras sócios ou adeptos e apenas no fim fez menção aos excessos policiais que atingiram sportinguistas com bastonadas e balas de borracha. Não teve a mesma disposição para criticar o CD liderado pelo seu “Grande presidente” pelo seu silêncio e indiferença perante o sucedido.
Entrou também o “esnobismo e cismo” (e acrescento o cinismo) pela mão do Dr. Eduardo Barroso que numa participação no canal TVI, depois de enaltecer Varandas, apelou para a união no Sporting e defendeu que o actual presidente devia aproveitar este momento para promover uma reconciliação no clube sem nunca mencionar o nome do Dr. Bruno de Carvalho, que ele em tempos afirmou deveria ser readmitido como sócio. Terá sido hipocrisia ou mero esquecimento da promessa que fez de estar na primeira linha para o reintegrar? O que também me marcou na sua intervenção foi a revelação feita pelo distinto médico que o treinador Ruben Amorim, lhe terá enviado uma mensagem no dia que antecedeu o jogo com o Boavista para lhe aliviar, dizendo: “Doutor, durma tranquilo. Somos campeões amanha”. Que especial! Como se deve ter sentido excepcional, distinto e singular o senhor doutor. O Sporting é isto…uma feira de vaidades e um porto de abrigo para gente que se sente inerentemente merecedora de privilégios e de tratamento especial.
No meio de tanta conversa, de tanto engodo e de tanta bajulação, uma das melhores e mais acertadas afirmações que li, veio de um daqueles adeptos anônimos a quem desde já peço desculpa por não o conseguir identificar por nome e lhe dar o crédito que ele merece. Escreveu o dito adepto que não é por serem campeões pelo Sporting que Pedro Gonçalves e Nuno Santos são melhores jogadores do que Luis Figo e Krassimir Balakov. O mesmo se pode dizer em relação a Varandas e Bruno de Carvalho, que por sinal até foi campeão em 2015-2016 mas foi vergonhosamente roubado dessa conquista ...quem sabe talvez por algum bandido?
Luís Teves
20/05/2021
