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Luís Paulo Rodrigues 18/06/2020 - Da coragem de Menezes ao meu Sporting Clube de Portugal



Nas últimas semanas, talvez para matar o tempo sobrante em resultado da quebra de atividades públicas, em consequência das medidas sanitárias de proteção e segurança motivadas pelo surto da covid-19, inúmeros sportinguistas ocuparam os seus fóruns públicos com propostas sobre aquilo que defendem para o Sporting Clube de Portugal.


Estão, inclusive, a decorrer as jornadas “Sporting Com Rumo”, onde, entre muitas vaidades, aparecem pessoas corajosas que conhecem o Sporting Clube de Portugal e os seus problemas, e que também conhecem a realidade do futebol português e da sociedade portuguesa. São pessoas que sabem e que não precisam de arrotar sabedoria oca. Pessoas que não são vaidosas, nem petulantes, nem precisam do Sporting Clube de Portugal para terem a sua vida.


Uma dessas pessoas livres e com coragem é Luís Filipe Menezes, antigo autarca de Vila Nova de Gaia, sócio leonino há mais de 40 anos, que, no seu papel de autarca, preocupado com a valorização da sua cidade, mas também tendo em conta a sua costela verde e branca, veio a Lisboa falar com Filipe Soares Franco, então presidente leonino, tendo oferecido ao Sporting Clube de Portugal os terrenos e o projeto para a construção de uma Academia do SCP em Vila Nova de Gaia, que incluía um hotel de apoio às equipas leoninas que se deslocassem ao Norte do País. Filipe Soares Franco não quis e atirou o projeto do antigo autarca de Vila Nova de Gaia para o cesto dos papéis.


Luís Filipe Menezes é um homem do povo, que percebe do SCP, percebe de futebol e percebe da sociedade portuguesa. E essas qualidades foram públicas e notórias nas jornadas “Sporting Com Rumo” ao ter defendido o elementar em nome da unidade do clube: a readmissão dos associados expulsos e a normalização das relações com as claques. Seria uma amnistia sem precedentes num clube que vive um momento de grave crise, também sem precedentes. Mas, para momentos excecionais, medidas excecionais.


Menezes, tal como outros sportinguistas com bom senso, sabe que, sem estas condições elementares, jamais haverá paz no Sporting Clube de Portugal, muito menos haverá investidores credíveis para a SAD que gere o futebol profissional. Quem não entender isto, não entenderá nada.



E que Sporting Clube de Portugal eu gostaria de ter? Que modelo de gestão? É esse exercício que desenvolvo em 11 pontos, nas linhas que se seguem, socorrendo-me de um texto que, no essencial, escrevi há 12 anos, no blog LEÃO DA ESTRELA (www.leaodaestrela.blogspot.com), e que agora publico nesta página, com ligeiras correções, decorrentes, naturalmente, de novos conhecimentos e experiências.


1. O meu Sporting Clube de Portugal (SCP) teria um Presidente da Direção do clube e da SAD (sociedade anónima desportiva) que se dedicasse a tempo inteiro às duas organizações, sem conflito de interesses entre a sua atividade profissional e os objetivos do clube, que se afirmasse como um líder defensor e promotor da cultura sportinguista e que fosse presença assídua na representação oficial do SCP nos organismos do desporto português e em eventos nacionais e internacionais, especialmente aqueles que dizem respeito ao futebol profissional.


2. O meu SCP precisa de uma Direção que assuma o futebol de formação e o futebol profissional como grandes motores do funcionamento do clube, mas que aposte igualmente nas diversas modalidades desportivas, profissionais ou amadoras, como sinal da força e pujança do clube na sociedade portuguesa, assumindo o ecletismo como um fator distintivo dos clubes desportivos em Portugal, apostando na captação de patrocínios privados e procurando patrocínios públicos através de convénios com o Estado Português, tendo em conta o serviço de responsabilidade social decorrente do trabalho de promoção desportiva e de ocupação dos tempos livres, nomeadamente dos jovens.


3. No futebol profissional, o SCP precisa de ter bons gestores financeiros, bons gestores desportivos e uma Comissão Técnica liderada pelo treinador principal e formada por treinadores e outros técnicos de todos os escalões, mediante contratos de longa duração, proporcionando a necessária estabilidade tendo em vista a geração de resultados de desportivos de excelência. O treinador principal da equipa profissional de futebol do Sporting deve ser um técnico de reconhecido valor, no País e no estrangeiro, que, enquanto líder da Comissão Técnica, deverá ser o responsável por todo o futebol do clube, incluindo o futebol de formação.


4. O SCP precisa de uma Direção que promova uma cultura de grande responsabilidade e exigência em todos os sectores do universo leonino. Os atletas e as equipas do Sporting têm de ser sempre os primeiros e os melhores. Quando não conseguem esse objetivo, devem sentir uma grande frustração e não se devem contentar com segundos objetivos.



5. O SCP precisa de renegociar a sua dívida bancária, de modo a libertar-se dos enormes compromissos que estão a impedir uma política expansionista do futebol profissional e das modalidades. Para a sobrevivência do Sporting como clube de dimensão nacional e internacional é fundamental que, num prazo máximo de cinco anos, seja um clube liderante no futebol português (tanto no investimento no futebol profissional como nos resultados desportivos), e com melhores resultados desportivos no futebol europeu, incrementando novas e maiores receitas, de modo a combater o défice com o sucesso desportivo.


6. O SCP e o seu futebol profissional precisam de ser dirigidos “de dentro para fora” e não “de fora para dentro”, eliminando todos os fatores de interferência externa que contribuem para a sua desestabilização permanente, nomeadamente o protagonismo mediático dos empresários e de outros lóbis.


7. A política de aquisição e dispensa de jogadores deve ser da responsabilidade de pareceres devidamente justificados pela Comissão Técnica, em articulação com o Conselho de Administração da SAD (podendo esses pareceres ser tornados públicos, se for necessário), devendo a contratação de jogadores obedecer a rigorosos critérios de ordem técnica, definidos pela Comissão Técnica – em função de um plano de marketing estratégico previamente definido para o futebol leonino, o qual deverá ter em conta as disponibilidades orçamentais do SCP.


8. O SCP deve apostar na sua escola de formação de jogadores como principal fonte de constituição do seu plantel do futebol profissional, recorrendo ao mercado para corrigir eventuais lacunas, contratando jogadores de valor inquestionável, cuja carreira e comportamento profissional constitua um exemplo a seguir pelos jovens formados na Academia de Futebol do Sporting Clube de Portugal.


9. O SCP precisa de estabelecer verdadeiros protocolos com clubes que disputem a I Liga Portuguesa (com exceção do Benfica e do FC Porto) e a I Liga Espanhola, com vista à venda e empréstimo dos jogadores oriundos da Academia de Futebol de Alcochete que não tenham lugar no plantel profissional. Em todos dos casos, o SCP precisa de criar uma equipa de treinadores e psicólogos responsáveis pelo acompanhamento próximo e permanente de todos os futebolistas que estejam na situação de emprestados.


10. O SCP deve, também, privilegiar relações com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), elegendo esses territórios como mercados emergentes no século XXI, que devem ser captados como mercados prioritários para o crescimento do Sporting Clube de Portugal.


11. O SCP precisa de rentabilizar em todas as vertentes a marca SPORTING, liderando todo o “merchandising” do clube e criando uma rede de lojas, envolvendo primordialmente os núcleos e as filiais no País e no Mundo. Ao mesmo tempo, o SCP deve procurar meios alternativos de sustentabilidade económica diversificando serviços a prestar em áreas não desportivas.


Esta é a minha visão para o Sporting Clube de Portugal. Não abordei a questão da alienação da SAD porque sou contra ela. E quem defende essa alteração estrutural ou tem algum interesse particular escondido para beneficiar o negócio de alguém ou não sabe daquilo que fala. Por uma razão simples: jamais será dinheiro a tornar o futebol do Sporting campeão nacional, mas, isso sim, a competência dos seus dirigentes, dos seus técnicos e dos seus jogadores.



Luís Paulo Rodrigues

18/06/2020


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