“Eu não gosto de fazer distinções, mas a malta do Norte sempre foi mais atrasada.” Como sportinguista e como nortenho, confesso que fiquei incomodado ao ter conhecimento do pensamento profundo da senhora Maria de Lurdes Mealha sobre o povo do Norte, manifestado publicamente nas redes sociais, do alto do seu provincianismo lisboeta. Embora não sendo uma figura conhecida do grande público, Maria de Lurdes Mealha não é uma sportinguista qualquer. Foi candidata à Mesa da Assembleia Geral, como suplente, numa lista ironicamente designada “Unir o Sporting”, que ganhou as eleições de 2018. É, portanto, alguém da esfera de influência de Rogério Alves. Ao ter desqualificado os nortenhos, a senhora Mealha fez um ataque a milhares de sócios e adeptos sportinguistas que nascem, estudam, trabalham ou vivem no Norte de Portugal. E são sportinguistas por uma razão muito especial: em 1906, em Lisboa, Visconde de Alvalade, um advogado de Santarém, e o seu neto José Alvalade fundaram um clube para Portugal inteiro: o Norte, para o Centro, para o Sul e para as ilhas. Olhemos para alguns momentos da nossa história e para alguns espaços de manifestação de um fervor leonino verdadeiramente nacional e interclassista. Em 2002, o Sporting Clube de Portugal (SCP) festejou o seu último título de campeão nacional de futebol, sob o comando técnico do romeno László Bölöni e com os golos de João Pinto, Mário Jardel e companhia.

Enquanto continuamos à espera que o presidente Frederico Varandas diga às autoridades do futebol português e, já agora, aos sportinguistas, tudo o que prometeu que iria dizer sobre os bastidores da célebre temporada de 2015-2016, em que o melhor SCP de sempre, de forma estranha, foi incapaz de ser campeão, num despique titânico com o Benfica, a verdade é que já lá vão 18 anos sem que em Alvalade seja erguido o troféu mais importante de cada temporada – o título de campeão nacional, que constitui a melhor forma de promover e comunicar a imagem e a marca SCP no País e no mundo, gerando receitas e incrementando a militância de sócios, acionistas e adeptos. Este ano, entramos no período mais longo da história do clube sem conquistar o campeonato nacional de futebol. E um título nacional é o melhor meio de aferir a enorme popularidade do clube leonino. Dizem algumas vozes pretensamente entendidas na sociologia do futebol português que o Benfica é o clube do povo, que o FC Porto é o clube do Norte e que o Sporting Clube de Portugal não passará de um clube das elites lisboetas. E depois há sondagens: 6 milhões para um clube; 3,5 milhões para outro; e o resto para outro. Até parece que todos os portugueses têm clube. São ideias feitas, mas muito mal feitas, pois não correspondem à realidade. Assistir à festa popular que envolve a realização de uma final da Taça de Portugal com a participação do SCP é suficiente para desmentir essa ideia feita. Uma final com o SCP no Estádio Nacional transforma o magnífico vale do Jamor numa grande romaria verde e popular, onde não falta comida, bebida e muita animação.

Quando o SCP vai ao Estádio Nacional disputar uma final da Taça, o vale do Jamor cheira a povo vestido com os adereços verdes e brancos do clube – povo vindo de todo o País, do Norte, do Centro, do Sul e das ilhas. E o futebol transforma-se numa festa de todos, homens, mulheres, jovens e crianças; ricos, pobres e remediados. É aí, no meio do povo, que podemos confirmar a grandeza e a popularidade do SCP. Basta a conquista de um título nacional para fazermos a grande sondagem. Na memória de todos ficou a festa do título sportinguista de 1999-2000, na noite de 14 de maio. Foi uma enorme manifestação popular, de Norte a Sul do País, e também nas várias comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Bastou a conquista de um título de campeão 17 anos depois para que os sportinguistas aparecessem por todo o lado, demonstrando, assim, a sua lealdade ao símbolo do leão rampante. Nessa noite de glória, depois de uma vitória por 4-0 sobre o Salgueiros, no Estádio de Vidal Pinheiro, no Porto – jogo que tive o privilégio de assistir enquanto jornalista do diário “Público” –, o País saiu à rua para festejar o título de uma equipa de futebol como nunca se vira em Portugal. Havia sportinguistas por todo o lado a festejar em todas as cidades portuguesas. Até na Avenida dos Aliados, espaço simbólico das vitórias portistas. E enquanto a equipa do SCP se deslocava para Lisboa, o velho Estádio de José Alvalade encheu para uma grande festa que durou até de madrugada!... Mas há lugares improváveis onde há sportinguistas que amam o clube, independentemente dos títulos. Por exemplo, Parambos, freguesia do Alto Douro vinhateiro, no concelho de Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança, é um exemplo de uma localidade do Interior cuja população sofre pelo SCP. É conhecida como a aldeia mais sportinguista de Portugal!... Em Parambos, o futebol profissional é aquele que chega pela televisão. Mas há lá um clube, o Sporting Clube de Parambos, que é a filial nº 87 do Sporting Clube de Portugal. Em dias de aniversário da coletividade, é costume serem convidadas figuras conhecidas do universo sportinguista, enquanto homens e mulheres do povo, assim como velhos e crianças, pegam numa peça de vestuário verde para mostrar a sua raça leonina. Estes exemplos, tanto de Parambos como das festas populares que celebram os títulos leoninos em todo o país, deveriam fazer corar de vergonha a senhora Mealha e outras pessoas que pensam como ela. E deveriam fazer com que os dirigentes do SCP tivessem mais cuidado antes de abrirem a boca ou de deslizarem os dedos pelo teclado do computador ou do smartphone. Até por uma questão de educação e civismo.

Viver em Lisboa e olhar para o SCP como se fosse um clube exclusivo de Lisboa, faz-me pensar na malta do Campo Grande Football Club, que em 1906 tinha transformado a agremiação num clube de festas para a alta sociedade lisboeta, esquecendo a promoção desportiva entre a juventude, o que levou ao abandono de José Alvalade para fundar o nosso clube. E, mais do que isso, revela uma impreparação confrangedora para representar o grande Sporting Clube de Portugal. Luís Paulo Rodrigues
16/04/2020

Meu caro Nicolau Leocadio, na única foto em que vislumbro BdC, este tem às costas o André Martins. Que eu me lembre este jogador saiu do clube porque não lhe foi renovado o contrato sem que tenha havido nenhum litígio entre as partes, por isso não estou a ver a razão para o chamar de rato... mas posso estar enganado. Só se está a referir-se ao cabrão do Carrillo e aí sim, dou-lhe toda a razão. SL
Grande texto, este sim é o verdadeiro sportinguismo.
Mas eu já votei por correspondência. Fui a um notário, por acaso em Braga, e foi enviado o meu voto! Por que é que agora não se pode? Alguém que me explique. Acho que foi para o Presidente Bruno, porque eu fui operada em 2011 e depois em 2013. Não sei se foi da primeira vez ou na segunda. Mas eu votei por correspondência!
Meu caro Nicolau Leocadio,
Os ratos são novos, não pensam e não sabem. E são fragilizados, em início de vida... O problema é que são bonecos nas mãos das ratazanas. O problema são as ratazanas e não os ratos. Os ratos vão para onde as circunstâncias ditarem. Na maior parte das vezes não têm capacidade de escolha. Vão para onde as ratazanas disserem que têm de ir. De resto, a fotografia é histórica. Foi o primeiro título nacional de BdC. Não façamos como eles. Não apaguemos a história. Forte abraço, e Saudações Leoninas!
Havia de ser não só de Portugal inteiro como fora dele.
Mas parece que o que decide ciclicamente o futuro do SCP passa pelo eixo Quinta do Patino e Quinta da Marinha