Em tempos limite, de medo e incerteza, sentimos ainda mais a importância de um jornalismo livre, de investigação e aprofundamento e sobretudo, o de uma Comunicação Social como meio entre o que acontece e o leitor, o espectador ou o ouvinte.
As decisões que tomamos, o sentido que damos a um voto ou posição que defendemos, num inócuo debate entre amigos, parte da informação, mais ou menos, correcta que nos foi apresentada num jornal, numa estação de rádio ou num canal de televisão. Com tanto ruído, com tanta desinformação mascarada de verdade, nas redes sociais, o jornalista surge, ou deveria surgir sempre, mas sempre, como filtro ou indicador do que é ou não é um facto. A questão é que não estão reunidas as condições para o jornalismo se fazer sempre como tem e deveria ser feito.
A pressão do online faz com que redacções, cada vez mais reduzidas, tenham que a um elevado ritmo noticiar ou, simplesmente, replicar o que acontece, baixando por vezes a guarda na sua própria validação. A situação de precariedade que a classe vive, generalizadamente, é uma dura realidade, com uma parte significativa dos jornalistas a não ter sequer um vínculo laboral e/ou a estarem, por isso, sujeitos a uma tremenda instabilidade o que gera um clima de insegurança. O medo de perder o emprego é constante, a oferta é avassaladoramente superior à procura. Mais de metade dos jornalistas, em Portugal, têm um vencimento entre os quinhentos e os mil euros. Sendo que um quarto dos jornalistas levam menos de oitocentos euros para casa ao final do mês.
Por outro lado, assistimos um fenómeno cada vez menos raro que é o jornalista que confunde a sua posição de meio para contar, explicar, mostrar e passa a fazê-lo de forma altamente enviesada, com a sua opinião pessoal muito vincada, muito próxima de um artigo de opinião ou de uma crónica, sem a imparcialidade suposta. Ou então, ainda mais grave, a compactuar, ou o ser pressionado para compactuar, com o que acaba por ser um julgamento, antes do próprio julgamento. Neste caso, o suspeito ou o arguido é tratado como culpado, como criminoso. Parte das vezes, com o passar do tempo, verificamos que são suspeitas tão infundadas ou tão frágeis que não dão em nada. Contudo, o tal “julgamento” para a opinião pública já foi feito, apesar do julgamento, de facto, não existir. Mas o inocente, entretanto, já foi crucificado.
A juntar a tudo isto com a fragilidade financeira da maioria dos Orgãos de Comunicação Social as redações têm cada vez menos condições de fazerem investigações de fundo e grandes reportagens, também elas um vital aliado da justiça versus injustiça, da informação versus desinformação e do conhecimento versus desconhecimento.
Os sportinguistas não escapam a este fenómeno e tomaram decisões não tendo acesso à realidade, elegendo sem saberem quem estavam realmente a eleger. Não têm, hoje, a real noção do que se passa no clube, pois a transparência baixou neste mandato e os jornalistas nem sempre conseguem investigar como era tão importante fazerem. Por último, alguns sportinguistas até maltrataram e desprezaram quem tanto fez, de facto, pela Instituição. Acredito que com plena informação a história recente do Sporting teria sido outra. Esperemos ainda ir a tempo de corrigi-la.
João Francisco Fonseca
20/04/2020
Sem dúvida que o atual estado do Sporting também se deve ao péssimo jornalismo. Depois do que se passou no Sporting em 2018 já não consigo ver notícias, para mim têm zero credibilidade... no entanto praticamente toda a sociedade está dependente daquilo e acredita em tudo o que é publicado sem ter nenhum pensamento crítico, mas em vez de andarmos todos cultos e bem informados anda tudo manipulado.
Os julgamentos em praça pública feitos na CS são, de facto, execráveis, mas há algo de mais escondido e igualmente pernicioso: a falta de definição da política editorial. É isso que permite que propaganda passe por informação. Ninguém espera isenção do jornal de um clube. O problema é que os jornais desportivos em Portugal (ao contrário do que acontece em Espanha, por exemplo, onde todos sabem a que é que os jornais são afectos) veículam, de forma encapotada, interesses que nada têm a ver com informação isenta.
Gostei, quem dera que ainda vamos a tempo
Senhor João Fonseca, permita-me - para além de concordar com o que descreveu - expor a minha opinião que vale o que vale (e neste assunto quase zero).
Todos os médias hoje, são propriedade de grupos poderosos quer financeiros, quer de "poder" e que quase ninguém sabe quem está por detrás deles, excepto, o testa de ferro que o grupo contrata - vulgar director de informação - para divulgar as noticias, os comentários e as "verdades" que cada grupo quer espalhar em conformidade com os seus interesses. Estes diretores, que sabem quais as linhas que tem de seguir porque para isso foram contratados, irão escolher os colaboradores que terão de ter os seguintes perfis: - ou comungam com ele a…
Parabéns pelo seu texto. Compreendo que a precariedade do emprego possa em certos casos levar as pessoas a simplesmente seguir a linha editorial que lhes é imposta. A grande questão para mim é que normalmente os jornalistas que promovem essa política das fake news são os mais consagrados, que normalmente nem estão abrangidos por essa precariedade. Simplesmente difundem uma cartilha para a qual são pagos e acabam por levar a imprensa ao estado lastimável a que realmente chegou. Pelo caminho estragam a vida a quem os confronta a eles e a quem lhes paga a avença.