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Afonso Pinto Coelho 11/11/2020 - FUTEBOL SEM ADEPTOS



O “novo normal” decorrente da pandemia Covid 19 determinou que os estádios e os pavilhões estejam praticamente “despidos” de adeptos desde Março deste ano. Continuo sem conseguir entender quais os critérios que fundamentaram as decisões de proibir a presença de público em eventos desportivos realizados em estádios e pavilhões, quando tal tem sido permitido em manifestações de cariz politico e religioso, bem como em espectáculos musicais e tauromáquicos, e mais recentemente no Grande Prémio de Fórmula 1 de Portugal que decorreu em Portimão, onde em algumas bancadas não foram respeitadas minimamente as distâncias de segurança entre os espectadores presentes. Estranho até como possível autorizar a comercialização da quantidade de bilhetes que foi colocada à disposição do público, com as consequências que se conhecem em termos de organização do evento. Relativamente aos desportos colectivos (futebol, futsal, andebol, basquetebol, hóquei em patins, voleibol, futebol de praia, rugby, etc), este “novo normal” remete-nos para espectáculos tristes e sem a emoção e magia que os próprios adeptos que enchem estádios e pavilhões aportam aos espectáculos desportivos, quer através do colorido das camisolas, bandeiras e cachecóis, quer através dos gritos, palavras, frases ou músicas durante os jogos, o que tem impacto mesmo para quem está a seguir os eventos via televisão e/ou rádio.


Obviamente que relativamente à envolvente contextual (de carácter legal e sanitário), pouco podem fazer os clubes, ligas e federações, excepto sensibilizar as autoridades para as consequências das suas decisões. No entanto, seria expectável que todos os “stakeholders” relacionados com os espectáculos desportivos lamentassem publicamente a não presença de público, não só pelas razões que já referi, mas também pelas razões de ordem económico-financeiras, com as consequências do impacto da perda de receita de bilhética.


No entanto, no âmbito da vida quotidiana do Sporting Clube de Portugal, existe um conjunto de pessoas (alguns deles sócios do Sporting Clube de Portugal) com visibilidade na comunicação social que consideram altamente benéfico o facto dos jogos do Sporting Clube de Portugal não terem adeptos nas bancadas, com o argumento que a não presença de adeptos nas bancadas liberta a equipa. Considero absolutamente inaceitável este tipo de afirmações, até porque o factor ”pressão” faz parte das nossas vidas, no que se refere aos diferentes “role-play” que desempenhamos, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto profissional. Quem faz este tipo de afirmações não está seguramente a pensar nas perdas enormes de receitas que os clubes estão a ter com a não presença de adeptos nas bancadas, o que é ainda mais evidente no caso dos clubes grandes, pois são aqueles que tem mais adeptos nos jogos nos seus estádios/pavilhões, e consequentemente onde a perda de receitas é mais significativa. Inversamente, nos clubes de futebol de menor dimensão, o peso das receitas televisivas (se aplicável) nos seus orçamentos é seguramente muito mais significativo do que o peso das receitas de bilheteira. Além disso, para além da dimensão económico-financeira, existe outra dimensão muito mais importante: a identificação do sócio/adepto com o clube. A não deslocação dos adeptos aos estádios/pavilhões por longos períodos de tempo pode criar uma desabituação da frequência dos recintos desportivos numa lógica de médio/longo prazo e uma eventual erosão das massas associativas, na medida em que o factor de decisão para muitos adeptos em serem sócios dos respectivos clubes da sua preferência tem a ver as condições mais vantajosas e preferenciais na aquisição, em termos de bilhetes de época, ou por evento desportivo.



Em conclusão, apenas se conseguem compreender afirmações do tipo “a não presença de adeptos liberta a equipa” numa lógica em que os adeptos deixam de ser sócios e passam a ser clientes, e em que os clubes (e consequentemente os seus sócios) deixam de controlar maioritariamente as sociedades desportivas em beneficio de investidores privados que passam a determinar quem e quando tem acesso aos seus estádios, em função do seu interesse particular.



Saudações leoninas!



Afonso Pinto Coelho

11/11/2020


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